Vivas a todos.

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Mais um mês se passou e poucas novidades haviam para contar, não fosse eu ter tido a iniciativa de me fazer à aventura no passado sábado... Mas já lá vamos.
Entre dia 9 de Outubro e 8 de Novembro a Super-ZEV fez 73 KM. Carregou de dois em dois fins-de-semana.

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No sábado, resolvi entrar numa aventura inconscientemente. Meti-me a caminho do Colombo e fui devagar (a velocidade calma) na AE, o que me permitiu gastar apenas um terço da carga nestes primeiros 30 e picos KM. Ao chegar ao Colombo, mal havia lugar para estacionar quanto mais para carregar a mota... Como tinha dois terços de carga para os 30 e tal KM de regresso, resolvi pará-la lá num canto sem recarregar e seguir para o estádio da Luz, onde vi o Benfica - Sporting para a taça. Foi um bom jogo e fiquei muito agradado ao ver, os jogadores do meu clube, lutarem com mérito para que no fim recebêssemos a justa vitória. Acho que a emoção e o contentamento inspirou-me a confiança que resultou em tudo o que fiz no resto da noite...

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Iniciei a viagem de regresso de forma "menos calma", pois havia muita carga para gastar. Já na AE, comecei a pensar que era melhor acalmar o punho, pois a mota esteve duas semanas sem carregar e, o facto das células ficarem "desbalanceadas" graças a isso, poderia correr mal... E correu. Ainda acalmei a viagem, mas já era tarde. Logo logo desapareceram as 8 ou 9 barras de carga que ainda tinha e acendeu a luz da bateria. Estava ainda na A2. Numa espécie de "ponto-morto", consegui chegar à saída do Fogueteiro. Faltavam cerca de 10 quilómetros até casa. A bateria estava com uns 128v no total. A célula mais alta tinha mais de 3.2v e a mais baixa aproximava-se rapidamente dos 2.3v (em esforço).

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Talvez inspirado pelo espírito guerreiro dos bravos que venceram o jogo, decidi continuar e fazer algum exercício físico. Ainda eram umas 23 horas, não chovia, a noite estava bonita e eu, apesar de não ter jantado, sentia-me revigorado e com vontade de dar uso aos 95 quilos que equipam a minha alma aventureira.
Foi com relativa facilidade que fiz a primeira subida. Subi para o viaduto que dá para o Casal do Marco e resolvi não parar na bomba de gasolina. Afinal ainda mal tinha suado. A segunda subida é logo a seguir, mas é suave e, ainda por cima, a ela se segue uma descida longa até ao fim do Casal do Marco. A meio da descida há a "rolote dos hambúrgueres" onde se pode deixar a mota a carregar enquanto se trinca qualquer coisa. Como estava embalado pela descida, não quis parar. Foi um erro, admito já. Ainda assim, embalado, fiz a subida seguinte. Já me sentia um pouco cansado. As raízes das árvores que ocupam a berma incomodavam o andamento. Mas a noite ainda tinha muito para dar.

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Esta zona é muito escura. Empurrei a mota com as luzes ligadas, enquanto espreitava os valores da célula mais baixa. Eu sabia que se ela se aproximasse dos 2.00v teria de desligar a mota. Entretanto, lá a ia empurrando...
A primeira peça de equipamento a desistir da viagem, foi o capacete. Rapidamente o coloquei na bagageira enquanto descansava uns segundos. Mantive o casaco no corpo, não fosse a humidade e o orvalho, que habitualmente se instala, fazer das suas.
Comecei a necessitar de repouso frequentemente. À medida que o cansaço se apoderava de mim, começava a ser mais difícil desviar das pancadas, que as peseiras da pendura nos dão nas pernas, quando empurramos a mota... Ainda assim, resolvi não parar na bomba que fica a 6 quilómetros de casa, onde há mais de 5 anos atrás parei para "abastecer" ao ficar sem carga pela primeira vez na minha ZEV. Talvez orgulhoso por nunca ter necessitado chamar reboque por falta de carga, ou pedido ajuda para a arte de dar ao empurrão, resolvi, mesmo cansado, continuar.
Alternava constantemente o lado em que empurrava, pois as peseiras massacravam a lateral das pernas junto aos joelhos e era "à vez" que dava a perna seguinte ao manifesto.
Já era meia-noite quando entendi ligar à patroa a avisar que a viagem ainda estava longe de terminar. Nessa altura já a disponibilidade de engolir o orgulho era grande. Doíam-me vários músculos e pensei logo em recarregar a mota nas bombas da Socrabine, que ficam a cerca de 3 quilómetros de casa. As bombas estavam fechadas! Já era muito tarde. Ora, na altura em que eu estava prestes a desistir, a noite tinha se apoderado da população. Já estava tudo fechado à minha volta. Mas estava em Coina, era a última localidade que tinha de atravessar (antes da minha). Fiz grande parte desta zona por cima do passeio largo que ali existe. Aqui tive de parar durante bastante tempo. Estava sem forças.

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Quando voltei ao caminho, atravessei uma zona de areia (era mais "terra fina"), pois não quis meter-me a empurrar a mota na estrada nacional que, aqui, não tem berma. Resolvi, meio toldado com o cansaço, passar a mota por cima de uma tampa de cimento que estava imediatamente antes do acesso ao alcatrão. O resultado fez-me chamar uns quantos nomes a mim mesmo durante uns minutos. Então não é que, quando a roda de trás estava quase a subir para cima da tampa, a da frente tinha acabado de descer? Assim, fiquei com a mota encaixada numa placa de cimento. Não andava nem para a frente, nem para trás... Isto quando os nossos braços já não aguentam mais o esforço, ser obrigado a pegar nos 200 quilos da mota é obra para o Hércules... Enfim. Lá arranjei uns picos de hercúleo feito e safei-me, nem sei bem como. Depois, tive de atravessar a estrada nacional para o lado contrário, pois só lá teria berma novamente.
Estava na última das subidas mais inclinadas que tinha pelo caminho. Fi-la na berma, mas em "contramão". As próximas subidas eram todas mais suaves, mas nem por isso menos difíceis... Completei-a com várias paragens, e depois passei pela nova fábrica das tortas de Azeitão. Pela primeira vez desde há anos que aqui passo, não pensei no paladar delas, mas sim na aventura que resolvi fazer. O que é que me passou pela cabeça?!
Obras inacabadas da EDP (ou REN ou CME), levaram-me a ter de voltar a atravessar novamente as três faixas da nacional 10, pois já só teria berma no lado oposto. Fi-lo e continuei. Antes de chegar ao Retail Planet do Barreiro, já a berma tinha acabado, dando lugar a uma vala de escoamento de água, onde tive de fazer umas dezenas de metros todo torto...
Ao chegar à Quinta do Conde, saí da Nacional 10 e fiz o resto do percurso por dentro da vila. Umas vezes ia pelo passeio (onde havia), outras vezes tinha de ir na estrada e, nas curvas cegas, convinha fazê-lo a correr, não fosse vir lá algum carro entretanto.

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Quando faltavam menos de 300 metros para chegar a casa (já a conseguia ver ao longe), a subida, que até era das suaves, parecia não acabar. Foi a mais difícil de todas. Parei várias vezes para descansar. Acho que já mal fazia 5 metros sem parar para descansar. As lombas eram um sacrilégio... Por fim, lá cheguei. Sem forças, logo após o último esforço para subir o passeio e a rampa de acesso à garagem. A patroa estava à porta, à minha espera, com uma garrafa de água na mão, que eu tinha pedido por sms há metros e metros atrás...
Era para aí uma hora da noite. Fazendo as contas por alto, estes 5 quilómetros por hora a empurrar, deve ser recorde nacional de uma espécie de maratona eléctrica dos teimosos.
Agora tenho estado a meter a mota à carga todas as noites. Espero não ter estragado nenhuma célula. É, claramente uma necessidade, recarregar a mota antes de sair de casa, ao fim de duas semanas parada...
Espero que este exemplo sirva (perdoem o pleonasmo), de exemplo...

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