Brasil: Chevron poderia ter evitado vazamento, diz relatório da ANP
Multa será calculada em 30 dias mas não passará de R$ 50 milhões.
Chevron não compreendeu a geologia local e não fez análise de risco.
19/07/2012
O acidente num poço de petróleo da empresa americana Chevron em Campo do Frade, na Bacia de Campos, em novembro de 2011, que resultou no vazamento de 3.700 barris de óleo poderia ter sido evitado se a Chevron tivesse conduzido suas operações com de acordo com a regulamentação da ANP e com seu próprio manual de procedimentos.
Foto aérea da mancha de óleo no Campo de Frade
divulgada pela ANP
Essa foi a informação dada pela da diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriard, na tarde desta quinta-feira (19) ao apresentar o resumo do relatório das investigações da agência sobre o vazamento. Segundo Magda, a íntegra do relatório será divulgada no site da agência na sexta-feira (20).
Em nota, a Chevron informou no início da noite desta quinta que "a resposta da empresa ao incidente foi implementada seguindo a lei, os padrões da indústria e em tempo hábil. O plano de emergência da empresa foi executado conforme as leis e os padrões da indústria. O poço foi selado e abandonado com sucesso". A nota diz ainda que a Chevron trabalha com a ANP em relação a todas as questões referentes ao Campo Frade, incluindo o retorno à produção. Na avaliação da Chevron, o volume de óleo vazado é de 2.400 barris. Leia a íntegra da nota ao fim da reportagem.
Em 30 dias, segundo Magda, será divulgada a multa a ser aplicada à Chevron, que não passará de R$ 50 milhões, que é o limite para o caso. A diretora explicou que nesse prazo será estudada a dosimetria da multa, levando em conta situações como capacidade econômica da empresa, a gravidade do acidente, a reincidência. Como o vazamento ocorrido em março de 2012 ainda está sendo investigado, a empresa ainda não é considerada reincidente.
Vazamento de 3.700 barris
Segundo Magda, apesar de o poço estar selado, ainda vazam para o mar cerca de 20 litros por dia, de óleo que ficou retido em rachaduras e fissuras nas rochas. A ANP afirma, porém, que esse óleo faz parte do total de 3.700 barris que vazaram do poço.
De acordo com a agência, o vazamento da Chevron significou 96% do total dos vazamentos de óleo no Brasil no ano passado.
A diretora explicou ainda que estuda o pedido da Chevron para voltar a produzir no Campo de Frade, o que, segundo ela, não é inconveniente uma vez que foi a própria empresa que decidiu suspender a produção após um segundo vazamento em março de 2012, que ainda está sendo investigado pela ANP. Ela disse que no próximo dia 27 a ANP divulgará sua decisão. Magda, porém, deixou claro que a Chevron só poderá voltar a perfurar poços no Campo do Frade quando provar que pode evitar erros como o de novembro de 2011.
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Segundo o relatório da ANP, em relação ao acidente a Chevron não foi capaz de compreender a geologia local, apesar de ter 62 campos perfurados lá. Houve ainda uma estimativa incorreta da pressão no poço, criando condições para acidente.
A empresa não usou os resultados de testes de resistência em rocha em três poços perfurados anteriormente. Se tivesse usado esses dados, diz o relatório da ANP, o projeto onde houve o vazamento teria se mostrado inviável.
'Chevron levou 2 dias para perceber vazamento'
Segundo o relatório, se a Chevron tivesse estudado os dados de incerteza de pressão dos poços, o projeto teria que ser alterado. A Chevron não fez análise de risco contrariando a lei brasileira e sua própria gestão de risco.
Segundo o relatório, as tentativas da Chevron de controlar o vazamento usaram técnicas inadequadas.
“A Chevron levou dois dias para perceber o vazamento. As pressões anormais, a perda de circulação, e o fato de a Petrobras ter identificado uma mancha entre Campo do Frade e Roncador deveria ter levado a Chevron a perceber o vazamento”, disse Magda.
A diretora disse que não foi identificada qualquer falha da parte da Transocean, por isso, ela não é responsabilizada no evento.
A ANP levou oito meses para elaborar o relatório de 68 páginas. Segundo a diretora Magda, esses oito meses não foram dedicados apenas à investigação, mas à elaboração de todo um processo administrativo.
“Um processo administrativo é uma situação extensa, tem a investigação e o contraditório, com ampla defesa da Chevron”, explicou.
http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noti ... a-anp.html