Empresa portuguesa considera que eliminar a subsidiação das tarifas aplicadas à microgeração e à minigeração nesta fase seria "morrer na praia".
Em entrevista ao Económico, Raul Santos, partner da Sunenergy, diz que o sector das energias renováveis deu "um salto enorme nos últimos anos" em Portugal, o que fez com que o país fosse considerado pelo exterior como "um caso de sucesso no sector".
O empresário afirma que se tem vindo a verificar um aumento progressivo da procura sobretudo por parte das empresas, nomeadamente devido ao aumento do custo da energia eléctrica. No caso das famílias, Raul Santos fala em poupanças de energia que podem ir até aos 85% através de soluções de produção de águas quentes a partir do sol para casas, mas também hotéis, lares e piscinas.
A Sunenergy chegou a Portugal em 2010, fruto do sonho de Raul Santos, fundador da Crioestaminal, e de Alexandre Batista, antigo Director Executivo da Catari España. Os dois responsáveis deixaram as anteriores ocupações para se lançarem no projecto da SunEnergy por acreditarem "nas virtudes das energias renováveis e naquilo que podem fazer para garantir um desenvolvimento sustentável do planeta".
Numa entrevista recente, o CEO da EDP Renováveis, Manso Neto, disse que a evolução dos preços do petróleo pode contribuir para aumentar a procura de energias renováveis. Além da evolução dos preços do petróleo, que outros factores condicionam a procura?
De acordo com a experiência da Sunenergy no mercado nacional, uma das maiores motivações que levam as pessoas e as empresas a procurarem soluções de energias renováveis tem a ver com os aumentos constantes do custo da electricidade e do gás natural a que temos vindo a assistir, associado a uma constante preocupação com a sustentabilidade ambiental, sobretudo ao nível das empresas.
De que forma a revisão dos incentivos, das taxas e das tarifas pelo governo está a prejudicar o sector das energias renováveis?
Parece-nos natural que à medida que a tecnologia se torna mais madura, o esforço que é necessário fazer para permitir a sua implantação seja cada vez menor. Com isto queremos dizer que as políticas do anterior governo e a definição de um enquadramento que estimulasse o investimento privado no sector foram correctos. Da mesma forma, parece-nos razoável que o actual governo, nesta fase, reduza os benefícios fiscais e as tarifas aplicadas à microgeração e à minigeração, em particular, até porque o investimento que é feito nestes projectos é agora menor.
Estamos a falar numa quebra de que proporção?
No caso da microgeração, grosso modo, o investimento é cerca de metade do que era necessário há cerca de dois anos atrás. Neste período, também a tarifa passou a cerca de metade, de tal forma, que o investimento acaba por ter a mesma rentabilidade agora que tinha há 2 anos atrás. O mesmo raciocínio se aplica à minigeração... Daqui a 2 ou 3 anos mais, provavelmente já não será necessário haver qualquer tipo de subsidiação da tarifa, uma vez que investir numa microgeração ou numa minigeração poderá ser rentável per si, numa lógica de auto-consumo, de forma a que cada casa ou cada empresa produzam a sua própria energia. É este, aliás, o modelo energético que faz mais sentido, produzir a energia no local onde ela irá ser consumida de seguida. Desta forma evitam-se todas as perdas associadas ao transporte da energia em alta tensão desde o local de produção (Barragens hidroeléctricas, eólicas,...) até ao local onde é consumida. Por tudo isto, eliminar a subsidiação da tarifa nesta fase seria "morrer na praia" e desperdiçar todo um investimento realizado pelo país no sector das energias renováveis e da energia solar em particular.
Qual é o estado actual do mercado das energias renováveis em Portugal?
O sector das energias renováveis deu um salto enorme nos últimos anos no nosso país, o que nos permitiu sermos olhados no exterior como um caso de sucesso no sector. A aposta nas energias renováveis permitiu-nos reduzir substancialmente a nossa dependência energética em relação ao exterior e, ao mesmo tempo, cumprir objectivos de produção de energia a partir de fontes renováveis.
O que é preciso fazer para melhorar?
Conscientes das dificuldades do país, existe um aspecto com o qual não concordamos e que está a colocar em causa a sustentabilidade do sector e que tem a ver com as quotas disponíveis para que as pessoas e as empresas possam investir na microgeração e na minigeração, em particular. Em 2011, a quota de potência disponível para as microgerações era de 25 MW. Em 2012 é de apenas 10 MW e esgotou logo nos primeiros 3 meses do ano. No caso das minigerações, em 2011, a quota era de 50 MW e em 2012 é de apenas 30 MW. Esta redução da quota disponível está a fazer com que a procura seja superior à oferta, o que limita grandemente o número de projectos executados e a potência total instalada. Na perspectiva da Sunenergy, é fundamental que o governo defina um regime de quotas que não seja um constrangimento para o desenvolvimento do sector e que tome medidas concretas, já em 2012, para estimular o crescimento de um sector que tem contribuído para o desenvolvimento do país mas também das economias locais, com a criação de empresas e postos de trabalho um pouco por todo o território.
Quem é que mais procura por soluções baseadas em energias renováveis? Empresas? Famílias? E que tipo de empresas?
As nossas soluções são procuradas tanto por empresas como por famílias, sendo que, as empresas começam a ter um peso cada vez maior em termos de volume mas também de dimensão dos projectos. Estamos neste momento a finalizar um projecto de minigeração de grande dimensão na HFA, uma empresa de electrónica e telecomunicações. Temos tido também procura de PME ligadas aos sectores industrial, alimentar e agro-pecuário, entre outros.
Que soluções existem para as empresas?
A Sunenergy, em termos genéricos, disponibiliza dois tipos de soluções, soluções de investimento, por um lado, e soluções de poupança por outro. Dentro das soluções de investimento temos a minigeração, dirigida sobretudo a empresas de média e grande dimensão e que consiste na produção de energia eléctrica através da captação da radiação solar por um sistema de painéis fotovoltaicos. Essa energia eléctrica é então injectada na rede eléctrica e a EDP ou outro comercializador paga essa energia ao miniprodutor, a empresa que a produziu. Outra solução de investimento é a microgeração, semelhante à minigeração mas de menor dimensão e dirigida sobretudo a particulares e pequenas empresas.
E especificamente para as famílias, que soluções de poupança existem?
Temos disponíveis soluções de produção de águas quentes a partir do sol para as nossas casas mas também para hotéis, lares, centros desportivos, piscinas, termas, bem como para actividades como, indústria alimentar, têxtil e química, processos agropecuários, lavandarias, entre outros. Estas soluções podem permitir poupanças até 85% de energia. Para além desta solução de poupança, temos também outras soluções baseadas em energias renováveis para climatização de interiores muito eficientes em termos energéticos, como as caldeiras a biomassa (pellets e/ou lenha), bombas de calor, entre outras soluções. Neste caso, a poupança pode situar-se entre os 60 e os 80%. Temos também disponível uma solução de iluminação altamente eficiente, os microleds, que permitem poupanças que podem atingir os 93%, quando comparados com uma lâmpada incandescente normal.
Como tem evoluído o negócio desde o início do ano?
No final do primeiro semestre ficámos em linha com as nossas expectativas mas o cumprimento dos objectivos para este ano irá depender do fecho de alguns projectos que temos em carteira. Estamos optimistas em relação ao futuro mas é fundamental que as políticas para o sector, nomeadamente, o Plano Nacional de Acção para as Energias Renováveis (PNAER), seja apresentado e contenha medidas concretas para estimular o crescimento do sector, uma vez que este sector já demonstrou ser muito viável.
E como tem evoluído a procura por parte das empresas? E das famílias?
Sobretudo no caso das empresas, não só devido ao aumento do custo da energia eléctrica que consomem, mas também porque estão atentas às potencialidades do sector numa perspectiva de investimento, temos vindo a assistir a um aumento progressivo da procura, nomeadamente em termos de soluções de minigeração. Os investimentos nesta solução são muito variáveis, podendo oscilar entre os 15.000 e meio milhão de euros, dependendo da dimensão do projecto, mas a rentabilidade que as empresas retiram é muito superior aos investimentos mais tradicionais.
A crise também se tem feito sentir?
Acreditamos que num ambiente macroeconómico mais favorável, em que a confiança e o acesso ao crédito estivessem em níveis mais aceitáveis, os nossos resultados seriam muito melhores. De qualquer forma, é a realidade que temos e é com ela que temos de trabalhar todos os dias, nunca perdendo de vista o objectivo de fazer da Sunenergy um projecto cada vez mais sólido e uma referência do sector em Portugal.
Raul Santos foi fundador da Crioestaminal e Alexandre Batista era Director Executivo da Catari España. Por que é que deixaram as anteriores ocupações para se lançarem no projecto da SunEnergy?
Abraçámos este projecto porque acreditamos nas virtudes das energias renováveis e naquilo que as energias renováveis podem fazer para garantir um desenvolvimento sustentável do planeta. Os combustíveis fósseis são caros, muito poluentes e finitos. Como tal, cada família, cada empresa, tem agora o desafio de encontrar soluções que lhe permitam poupar energia e/ou ser auto-suficiente em termos energéticos. Esta é uma tendência socioeconómica que, na nossa perspectiva, irá prevalecer e que está já a conduzir a políticas públicas de apoio às renováveis e à eficiência energética e que representa a única via possível para garantir a auto-suficiência energética e a sustentabilidade do planeta. E foi sobretudo por estas razões que no ano de 2009, depois de nos termos conhecido aquando da frequência num MBA, decidimos levar por diante o projecto Sunenergy.
A Sunenergy tem actualmente nove delegações em Portugal e conta com uma equipa de cerca de 35 pessoas.
fonte
http://economico.sapo.pt/noticias/renov ... 50258.html