Complexo Quimico de Estarreja

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luimio
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Complexo Quimico de Estarreja

Mensagem por luimio »

[justify]• complexo quimico de estarreja - um caso de sucesso

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as origens do complexo químico de estarreja, datam do início da década de 30 do século passado. tudo começou com a instalação por parte da sapec de uma unidade de produção de cloro e soda, mas o grande impulso foi dado após a 2ª guerra mundial com a produção de amoníaco. a partir desse momento estarreja tornou-se num dos principais pólos da indústria química em portugal.
a produção de amoníaco em portugal, deveu-se sobretudo à necessidade de fornecer à agricultura nacional um adequado abastecimento de adubos nitro-amoniacais.
um factor que veio tornar-se fulcral no processo de produção de amoníaco foi que na mesma altura estava a ser implementado o chamado “plano hidroeléctrico nacional”.
ora como uma das matérias-primas necessárias para produzir amoníaco era o hidrogénio e este subsequentemente podia ser obtido por electrólise da água, pensou-se que se poderia juntar o útil ao agradável, ou de outro modo pensou-se que viabilizando a construção de grandes hidroeléctricas se encontrava um modo económico e eficiente de aproveitar a electricidade. foi desse modo então instalada na área industrial de estarreja e adjacente à linha de caminho-de-ferro lisboa-porto uma unidade de electrólise de água em que o hidrogénio era posteriormente convertido em amoníaco pela reacção com o azoto proveniente do fraccionamento do ar.
em 1952 a produtividade da agricultura portuguesa aumentou uma vez que parte da electricidade vinda das barragens dos afluentes do douro, juntamente com ácido sulfúrico proveniente da moagem de pirites do alentejo, foi convertida em sulfato de amónio como podemos exemplificar pelo esquema da figura 1.

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fig1-esquema exemplificativo do processo de produção de amoníaco em estarreja


como resultados do primeiro ano são indicados 20 983 ton de adubos químicos sulfatados.
em 1973 e após um acordo entre a sacor (actualmente integrante da galp) e a amoníaco português (actualmente integrante da cuf) previu-se a instalação de uma unidade petroquímica de aromáticos em matosinhos que iria produzir essencialmente benzeno e tolueno.
esses compostos seriam enviados para estarreja (que trabalhava em cooperação com a unidade de aromáticos) e posteriormente transformados em anilina e tnt respectivamente . no entanto e devida à conjugação politico-empresarial da altura decidiu-se suspender a produção de tnt e somente utilizar o benzeno de matosinhos para produzir anilina.
em 1979 iniciou-se então a unidade de anilina, e o complexo de estarreja foi assim, membro fundador do cluster português de refinação de petróleos/ indústrias petroquímicas.
quais os motivos então da produção de anilina em estarreja?
acima de tudo, com a produção de anilina era possível consolidar um grande número de unidades produtivas já existentes tais como:

- fábrica de h2so4 (98%) (estarreja);
- fábrica de sulfato de amónio (estarreja);
- fábrica de electrólise da uniteca (fornecedora de hidrogénio para estarreja);
- fábrica de aromáticos da petrogal (matosinhos).


no entanto e apesar de tudo isto a produção de anilina em estarreja não conseguiu singrar. a muito se devem os elevados custos logísticos (transporte) e a dificuldade em garantir com regularidade mercado.
procurou-se então uma nova estratégia para consolidar a fileira petroquímica de aromáticos e a solução encontrada passou pela produção de metil-di-isocianato (mdi) em estarreja


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fig2- estrutura do mdi

que motivos levam a optar por esta estratégia?

o metil-di-isocianato é um produto bastante viável porque é um dos componentes principais do fabrico de poliuteranos ou seja apresenta uma infinidade de aplicações na indústria automóvel, de embalagens, de equipamentos frigoríficos e de materiais de construção civil.

conseguia-se por outro lado também a consolidação/viabilidade de outras unidades de produção, já existentes, para além das de anilina :

? cloro e soda (uniteca, estarreja);
? formaldeído (bresfor, estarreja);
? monóxido de carbono (quimigal).

na figura 3 encontra-se expressa a integração das unidades mencionadas:

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fig 3- diagrama exemplificativo da interacção entre as várias unidades.

em 1982 com o arranque da unidade de mdi o complexo passou a ser rentável.
assim sendo e resumindo o que foi dito atrás, para além da unidade de produção de mdi os produtos finais obtidos no complexo na altura eram: o sulfato de amónio e a anilina.

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fig.4-balanço da da anilina no complexo de estarreja

como se vê pelo esquema em cima, o amoníaco está na base da produção tanto o sulfato de amónio como a anilina.
no caso concreto da anilina, parte do amoníaco que se converte em hno3, juntamente com o benzeno vão ter parte num processo de nitração para formar um produto intemediário mononitrobenzeno (mnb).
no caso em questão trata-se de uma nitração meissner, esta tem particularidade de exigir a presença de uma molécula de ácido sulfúrico concentrado 98%. daí haver a montante uma unidade de produção deste mesmo ácido.

como se produz então a anilina?

como já foi visto a produção desta depende da existência de mnb
o mnb é produzido pela nitração do benzeno com ácido nítrico, na presença de ácido sulfúrico (agente catalizador e desidratante)

o processo de nitração que o origina envolve 2 passos:
1º formação do ião nitrónio:
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trata-se de uma reacção ácido-base, sendo o sulfúrico mais ácido vai captar um protão e em seguida sai h20+ que é um bom grupo abandonante.

2ºreacção de substituição electrófila
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- há adição de no2+ (electrófilo) ao benzeno (nucleófilo)
-estabilização da carga + por ressonância

obtido o produto intermediário (mnb) este sofre uma reacção de hidrogenação a altas temperaturas e na presença de um catalizador(ni) formando a anilina.

a anilina apresenta um grande número de aplicações nomeandamente: produção de mdi (metil-di-isocianato) -intermediário chave para poliuretanos, plásticos automóveis e também aplicação em antioxidantes, herbicidas/pesticidas, industria têxtil farmacêutica

no final da década de 80, uma série de factores acaba por afectar a estratégia tecnológica do complexo. o amoníaco, produto utilizado no fabrico de mnb/anilina deixou de ser colocado na agricultura portuguesa. consequentemente o mnb deixou de se colocado logo vender sulfato por si só não era rentável. a esta situação não veio ajudar a entrada na união europeia visto que passou a haver um maior acesso a fornecedores estrangeiros mais competitivos.

exigia-se uma alternativa para produzir mnb já que pelo amoníaco não era rentável.
a solução encontrada foi passar a utilizar um tipo de nitração adiabática.
a grande diferença residia que neste novo processo há uma reconcentração do ácido num equipamento de destilação sob vácuo , este era recirculado ao longo do processo conseguindo-se evitar assim gastos excessivos.
um esquema da nitração adiabática encontra-se na figura 5

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fig5. processo de nitração adiabática.

este novo processo possuía vantagens e desvantagens:


vantagens:
- recirculação de ácido sulfúrico (menor consumo);
- as perdas da não comercialização do sulfato são amortizadas.

desvantagens:
- mistura nitro-sulfúrica é corrosiva para o material;
- possíveis gastos em equipamento.

em 1990 a quimigal viu-se confrontada entre a decisão de adquirir este novo equipamento ou continuar com o processo antigo de nitração meissner e arriscar em breve fechar portas.

a administração fase a esta situação encontrou uma alternativa, a possibilidade de adquirir um equipamento em 2ª mão americano que se encontrava desactivado mas em excelentes condições tecnológicas.
tratou-se de uma grande oportunidade visto que este equipamento desmontado e transportado para portugal e remontado em estarreja tinha um orçamento global de 1,0 x106 contos ao passo que uma unidade construída de raiz custaria o triplo.

em junho de 1991 consolidou-se o novo diagrama processual de produção de anilina a partir do mnb obtido por nitração adiabática.
em 1997 o aumento da capacidade de produção de anilina provocou a que grande parte passasse a ser exportada para a unidade de mdi em terragona. daí em diante o consumo de benzeno também ultrapassou a capacidade de produção da unidade da petrogal em matosinhos o que conduziu a uma expansão da petroquímica de base.
em setembro de 97 ocorreu a privatização da quimigal que passou a integrar juntamente com a uniteca a cuf.
já enquanto cuf foi estabelecido um contracto de fornecimento de anilina, cloro e soda com a dow que em conjunto com o aumento de produção de h2 e co por parte da air liquide permitiu uma expansão de toda a fileira de poliuretanos em estarreja que se tornou numa extrutura dinâmica . passou a ter influências noutras unidades processuais do cluster português da refinação de petróleos .

toda esta articulação pode ser expressa pela fígura 6:

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fig6.fileira de poliuteranos em estarreja

num plano mais recente(2006) é sabido de um acordo empresarial entre dow, cuf e ar liquide por mais 15 anos com o intuito de aumentar a capacidade de produção do complexo químico de estarreja.[/justify]


nota: excerto de um seminário apresentado por um grupo de alunos do ist - mestrado em engenharia química.

in:
http://quimica.forumeiros.com/artigos-f ... ja-t33.htm


Autor do tópico
luimio
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Re: Complexo Quimico de Estarreja

Mensagem por luimio »


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orbis
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Re: Complexo Quimico de Estarreja

Mensagem por orbis »

nesse esquema há um erro. o nome correcto da empresa é "renoeste".


Someone
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Re: Complexo Quimico de Estarreja

Mensagem por Someone »

agradeço a indicação do erro, de facto foi falha nossa:

http://quimica.forumeiros.com/artigos-f ... ja-t33.htm


Autor do tópico
luimio
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Re: Complexo Quimico de Estarreja

Mensagem por luimio »

eu trabalho neste complexo químico!
neste momento está em curso a duplicação da capacidade de produção da maioria das empresas. sem duvida em alguma coisa estamos a crescer.


Joana Carmelo
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Re: Complexo Quimico de Estarreja

Mensagem por Joana Carmelo »

alguém sabe me dizer o preço a granel do sulfato de amónia vendido por esta instalação?

obrigado pela atenção!


TPBL
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Re: Complexo Quimico de Estarreja

Mensagem por TPBL »

Luimio será que podemos falar por pvt?

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