Soluções para mobilidade - Veículos a ar comprimido
Enviado: segunda fev 23, 2009 1:04 am
soluções para mobilidade - veículos a ar comprimido
1 - introdução
lanço este tópico para análise da opção de utilizar o ar comprimido como fonte de energia para veículos. chamarei a um veículo a ar comprimido, simplesmente va.
do que pesquisei, e da abordagem que vi em alguns tópicos, fiquei com a sensação que muita gente aqui ainda desconhece o funcionamento, as virtudes, e os defeitos da opção va.
não lanço este tópico no intuito de minorar ou “xingar” o trabalho incansável de pesquisa e divulgação que muita gente por aqui faz, util e intressante.
criei o tópico para completar o tema, e tentar assim mostrar a viabilidade técnica da solução.
tento assim desmistificar uma opção de energia que está implantada, testada, e com provas dadas á muitos anos, em milhares de aplicações por esse mundo.
desta forma penso ajudar pessoas que nunca abordaram o tema de uma forma um pouco mais técnica, um pouco mais completa, a perceber do que se fala, e a perceberem as potencialidades e limites desta fonte de energia.
o que passo a expor é baseado em dados reais, de sistemas que funcionam segundo princípios termodinâmicos bem definidos. é uma apresentação geral e superficial, sem fórmulas mais elaboradas, especificidades, sem características em concreto de nenhuma marca.
quero desde já deixar claro que no que se refere a veículos, encontro-me ligado ao sector automóvel, no que respeita a manutenção através do negócio de família, o qual não é a minha fonte de rendimentos principal. vou tentar ser o mais isento possível.
tal como este sistema trás desvantagens a quem está estabelecido, também é uma fonte de oportunidades, que estarão certamente na minha mira.
além do mais, estes veículos/solução, utilizam muita tecnologia comum, e adaptação a esta ou outras soluções, não oferece mais problemas para uma oficina multimarcas que a evolução acelerada dos actuais veículos de combustão interna (ci).
quero desde já deixar claro, que não estou ligado directamente ou indirectamente a venda, prestação de serviço, interesse económico ou outro, deste sistema em particular.
posto isto, passemos ao que interessa
como o tema envolve ar comprimido, é essencial fazer uma abordagem à obtenção da fonte energética pois esta não está disponível na natureza da forma que necessitamos, e é essencial na viabilidade como vamos ver.
a abordagem ao tema e produção de ar comprimido, será feita no sentido da utilização nos va e não de noutras aplicações.
2 - história
não irei aqui alongar-me a dizer que quando o homem soprava para acender uma fogueira, já utilizava o ar comprimido, o ferreiro utiliva tb com os seus foles, os escoceses nas suas gaitas, e outras “cenas” idênticas. já no século xvii o homem sonhava e no século xix o homem utilizava os va nassuas deslocações.
com o desenvolvimento passou-se a utilizar o ar comprimido em larga escala quando começou a automação de linhas industriais, principal aplicação actual.
desde então muito se tem investigado na procura do aumento de rendimento, desde o fabrico, armazenamento e utilização, de forma a gerir recursos e aumentar rentabilidades.
isto tudo para dizer que o tema não é novo, tem sido massivamente investigado no sentido do seu desenvolvimento, usando tecnologia de ponta quer no fabrico, materiais utilizados, gestão e controlo, etc.
3 - noções gerais de como obter ar comprimido.
existem duas formas comuns de produzir ar comprimido, pela simples redução de volume ou por compressão dinâmica (transformação de energia cinética em energia potencial)
se falarmos em pressões de apenas umas poucas dezenas de bar, podemos falar em compressores volumétricos de parafuso.
para pressões de centenas de bar, utilizam-se normalmente compressores de pistão.
este tipo compressão, volumétrica, consiste em reduzir o volume ( espaço onde uma determinada massa de ar pode “habitar”) de uma determinada massa de ar.
como no caso e vamos perceber porquê, precisamos de ar a centenas de bar. a forma de obter esta fonte de energia para os va, passa então por este tipo de compressores.
4 - rendimento na geração de ar comprimido
como consequência a compressão do ar produz aquecimento do mesmo. este aquecimento por sua vez aumenta o valor da pressão, aumentando assim o esforço para conseguir levar uma determinada massa de ar até uma determinada pressão.
este aumento de temperatura deve-se ao facto da compressão estar compreendida entre uma compressão adiabática (sem trocas de calor) e uma isotérmica ( compressão ideal, onde a temperatura é constante).
ao arrefecer o ar perde pressão, voltando assim a diminuir a sua energia potencial.
os compressores de pistão, têm dois tempos por obrigação, em que se forem pistões de efeito simples, só um dos tempos (180º) gera trabalho, o outro apenas absorve energia.
outro problema deste tipo de compressores é o volume residual das cameras de compressão, factor que vai ganhando importância á medida que se aumenta a pressão requerida.
para aumentar o rendimento a compressão até uma determinada pressão, os compressores são divididos em vários estágios (andares) com arrefecimento intermédio. claro está que aumenta a complexidade, atritos, perdas volumétricas, etc, e assim sendo, o numero de estágios têm de ser limitado a um numero razoável. num compressor industrial para produzir a pressões de 6 a 10 bar, o normal são dois estágios. para maiores pressões podemos ter mais uns poucos.
devido a estes factores e limitações físicas é sempre recomendável trabalhar com baixas pressões, pois dessa forma o desperdício de energia é minorado. è uma das leis que os utilizadores desta fonte de energia devem respeitar.
em termos reais, utilizar o ar a metade da pressão com o dobro do caudal, é preferível a trabalhar com o dobro da pressão e metade do caudal.
para obter ar comprimido a 10 bar consome-se cerca de oito vezes mais em energia primária, do que a energia que fica no final no ar (energia potencial).
se falarmos em pressões na ordem das centenas de bar’s , então trabalhamos com múltiplos no consumo.
se queremos obter 1kw a 10 bar, temos de gastar 10kw em energia fornecida por exemplo por um motor eléctrico. no final 9kw perderam-se principalmente sob forma de energia térmica.
na industria, máquinas industriais, etc, sempre que se necessita de sistemas a funcionar com pressão alta, utiliza-se sistemas oleo-hidráulicos, pois estes além de outras vantagens e desvantagens, em termos de rendimento são muito superiores (aproveitam 80 a 90%, da energia gasta com eles).
em resumo, se pretendemos utilizar um sistema com ar comprimido, a energia gasta para obter o ar comprimido, é muitas vezes superior á que se obtém no final.
5 - se é uma forma de energia com baixo rendimento, "tão má", porque se utiliza?
por várias razões, algumas das quais passo a enumerar:
disponibilidade
o fluido motor está em todo o lugar, é grátis, e é fácil de utilizar e “deitar fora” quando não precisamos dele.
limpeza e contaminação
o ar comprimido por si só não é poluente, então qualquer fuga que haja não é prejudicial em termos químicos ou físicos para o ambiente.
devido a este factor, qualquer pequena fuga permanente , causada por uma avaria, ou uma fuga durante uma ligação ou outro, não provoca contaminações nem é nociva por contacto. pode jogar-se fora no final, sem cuidados especiais.
segurança
è seguro desde que se respeitem as normas (salvo acidentes, que dependendo dos casos e pressões/volumes, podem ser gravosos para pessoas e objectos).
o contacto directo com o fluido, não é nocivo para as pessoas, ao contrário de outras alternativas.
podem-se utilizar elementos de segurança nos circuitos de uma foram simples e eficaz.
em casos de ambientes explosivos o controlo e potência de estações de gás, minas, manuseamento de matérias primas combustíveis, etc., não oferece riscos de outros sistemas como por exemplo o eléctrico, ficando muito mais económicos que as outras alternativas para os ambientes em questão.
alta potência e binários
com equipamentos de dimensão reduzida, consegue-se obter binários, e potências consideráveis. se comparar-mos com actuadores eléctricos, o ar comprimido consegue os mesmo binário e potência com equipamentos muito mais pequenos. a diferença entre estes dois já foi muito maior mas ainda existe, e no caso dos eléctricos foi conseguida á custa de uma maior complexidade e consequente redução de fiabilidade.
facilidade de controlo
devido ás suas características, é fácil controlar movimentos, binários etc.
utiliza elementos de controle básicos, que qualquer pessoa aprende rapidamente a utilizar ou a manter.
além disso pode empregar-se a lógica e automatização de forma muito simples e acessível.
convertível
um sistema de ar comprimido pode ser modificado, acrescentado enfim transformado, rapidamente, com a possibilidade de reaproveitamento total dos elementos.
fiabilidade
um sistema de ar comprimido é fiável por muitos anos, desde que se tenham alguns cuidados muito básicos.
necessidade de ventilação ou sopragem
muitos processos necessitam de uma sopragem para insuflação, limpeza, ou uma simples ventilação, sendo o ar comprimido mais barato que qualquer outro gás.
principalmente por estas razões, os sistemas de ar comprimido são muito utilizados na industria, não por ser barato e rentável em termos de exploração.
é caro, e apontado como um dos factores a ter especial atenção em processos industriais, pois levam uma grande fatia dos gastos, apesar da potência que fornecem.
6 - armazenamento e densidade de energia
em qualquer processo tenta-se fazer coincidir a produção de um determinado tipo de energia com o consumo. acumular energia, nas mais diversas formas é dispendioso, perde-se rendimento, e diminui a segurança. no caso dos va, o consumo como é obvio, não coincide com a produção, logo tem de se armazenar o ar comprimido.
para acumular ar, utilizam-se depósitos que podem ser construídos em diversos materiais e formas.
para altas pressões usa-se aço, na forma cilíndrica de tubo com tampas copadas ou então na forma de esfera. no caso em que é importante o peso usa-se fibras de carbono revestidas a plástico.
agora quanta energia podemos acumular por kg ou litro (volume mais usual em gases)
supondo ar comprimido a 200 bar e 24ºc em reservatório de aço, obtemos 0,1 mj /kg de ar ou então 0,1 mj/litro de ar.
para 300 bar, 12ºc sem recipiente (benéfico) obtemos então 0,512 mj/kg ou 0,16 mj/litro.
a 20 bar, 12ºc, sem recipiente, temos 0,27 mj/kg ou seja, 0,01 mj/kg
a gasolina por exemplo tem 46,9 mj/kg e 34,6mj/litro!!!! e não é praticamente sensível à temperatura.
(valores retirados de http://pt.wikipedia.org/wiki/densidade_de_energia , que são aproximados)
ora se queremos de acumular mais energia de forma a aumentar a autonomia, só conseguimos aumentando o volume, aumentando a pressão, ou diminuindo a temperatura.
o volume num va encontra-se limitado ao admissível para um veiculo.
por razões de produção física e de rendimento, a pressão encontra-se limitada a poucas centenas de bar.
também devido à segurança e resistência/peso dos reservatórios, a pressão encontra-se tb limitada.
a temperatura terá de ser próxima do ambiente, pois para ser mais baixa , nunca se ganharia muito, iria aumentar muito mais os custos, diminuir a segurança, tornando-se assim esta via menos viável.
portanto aqui na acumulação de energia dos va , como em tudo tem de haver uma razão de compromisso que seja viável e aceitável.
nota: é interessante ver que a 200 bar e 24 ºc, são precisos 346 litros de ar, para ter acumulada a energia equivalente a um, sim um litro de gasolina.
se considerarmos 300 bar, e 30ºc, os valores serão semelhantes.
7 - rendimento de motores a ar comprimido
o rendimento varia conforme o tipo de motor, dinâmico ou volumétrico.
também aqui ganham os dinâmicos, turbinas. se forem turbinas em vários andares, melhor e mais eficiente são.
no caso dos volumétricos, também aqui a solução principal para aumentar o rendimento é o mesmo, aumento do numero de andares.
mais andares, acompanhados por aquecimento intermédio de preferência.
se falamos de motores de pistões (volumétrico), aqui parte do percurso não produz nada se estes pistões forem de efeito simples.
também nos motores existem limitações termodinâmicas e físicas para o aproveitamento, e ficam-se por um rendimento de 75%, claro está, nos melhores.
8 - que vantagens têm os va
segurança
pondo de parte o perigo de rebentamento, que hoje se tenta “controlar”, são seguros para utilizar em ambientes explosivos, ou altamente inflamáveis.
emissões
emissão de ar comprimido, que se isento de óleo, pode ser ainda mais limpo do que o do ambiente, não provocando assim uma contaminação do espaço onde normalmente operam. indicados assim por exemplo para operar zonas de armazenamento alimentar.
peso
como se pode utilizar pequenos motores e depósitos leves, podemos ter um veículo com pouco peso a operar onde tenha de ser autónomo, onde não possam haver emissões de gases poluentes e o peso seja importante.
ruído
os motores a ar comprimido são mais silenciosos por natureza que os de combustão interna, mas geralmente tb precisam de silenciadores que diminuem um pouco o rendimento.
fiabilidade
devido á simplicidade e á não necessidade de “explorar muito” os materiais utilizados, a fiabilidade é muito grande.
regeneração e controlo de consumo
é simples fazer a regeneração neste tipo de veículos, mas como foi dito a trás, apenas uma pequeníssima fracção da energia disponível é regenerada. numa muito boa hipótese uns 5% .
quando se está parado o consumo pode ser nulo.
9 - quais as desvantagens dos va?
consumo/custo
aqui reside o ponto principal, a produção da fonte energética, é altamente dispendiosa, comparativamente ás alternativas actuais, energia química ou eléctrica.
autonomia
devido à densidade de energia, e á limitação do tamanho dos reservatórios, a energia acumulada na prática num veiculo destes, é muito pequena, logo temos autonomias muito pequenas.
climatização do habitáculo
o arrefecimento está garantido, mas o aquecimento…. bem existem duas formas de o fazer, por acção de um compressor de uma bomba de calor, ou por resistências eléctricas.
na prática, o aquecimento pode consumir mais que o consumo do veículo na deslocação.
humidade
o ar tem vapor de água. como na realização de trabalho, a descompressão do ar é acompanhada de uma diminuição de temperatura (inverso da compressão), então o ar tem de ser tratado de forma a ter um mínimo de humidade. dadas as pressões envolvidas serem altas, esta exigência de desumidificação toma uma grande importância. caso contrário corremos o risco de a água formar gelo nas tubagens e/ou válvulas, e assim impedir ou limitar o funcionamento dos veículos por determinados períodos.
10 - são “verdes”?
em conclusão do que foi descrito atrás, digo que não. em termos individuais, apenas considerando o va, sim, são “verdes”. como neste caso temos de analisar a fonte de energia, não podemos considerar estes carros ecológicos. não, face ás muitas alternativas que dispomos, que ficam muito, mas muito acima no balanço global.
uns números apenas considerando fabrico de ar comprimido com energia eléctrica
para se obter um kwh útil proveniente de ar comprido, é necessário dispor 10 kwh eléctricos, considerando apenas ainda pressões muito baixas, cerca de 10 bar.
como para obter um 10 kwh eléctricos, são necessários cerca 35kwh na forma de combustível numa boa hipótese, então o rendimento é de 1 para 35.
como a 10 kwh eléctrico obtido a partir de gás, tem associado 6500 g de co2, então 1 kwh de ar comprimido correspondem a 65 kg de co2.
impressionante !!!!
podemos gerar ar comprimido a partir de fontes renováveis directamente no local ou indirectamente através de energia eléctrica, mas sempre a fracções do que conseguimos com os veículos eléctricos por exemplo.
11 - situação actual dos va
bem, actualmente existem veículos a ar comprimido a operar em minas, perfuração , e outras industrias, sempre com ligação ao gerador de ar. isto do que conheço.
existem também va anunciados por vários fabricantes como a aircar, a tata, e a mdi , entre outros. todos os mais divulgados estão ligados ou estiveram ligados ao sr. guy negre, o ceo da mdi.
existem protótipos anunciados á muitos anos, fábricas anunciadas e prontas para entrar em produção, mas ainda não saiu nada apesar de passarem cerca de 13 anos desde o arranque da mdi. vamos ver nos próximos tempos.
12 - quais as perspectivas de futuro dos va?
bem, na minha modesta opinião, pouco risonho. tudo o que é necessário desenvolver para tornar esta tecnologia prosperar, serve também de base a outras, o que me leva a dizer que as outras continuarão na frente, e a alternativa va, manterá apenas a aplicação actual.
13 - alguns link´s do fórum (e não só)
http://novaenergia.net/forum/viewforum.php?f=75
quem quiser estudar o tema do ar comprimido, basta procurar na net ou em livros do tema.
apenas alguns link´s
http://acser-automacao.com.br/_downloads/1.pdf
http://acser-automacao.com.br/_downloads/2.pdf
http://acser-automacao.com.br/_downloads/3.pdf
http://www.fiepr.org.br/fiepr/energia/a ... rimido.pdf
14 - algumas perguntas pertinentes sobre a situação actual.
- se existem fabricantes à tantos anos, porque os veículos tendem a não aparecer?
- se acabámos por passar por um pico do petróleo, existem fábricas anunciadas em vários países , porque não aproveitaram para lançar estes veículos?
- se está anunciado o lançamento para este ano, já estão homologados?
- se temos os fabricantes de veículos de combustão interna obrigados a reduzirem emissões, se têm inúmeros laboratórios cheios de engenheiros cientistas, porque nenhum divulgou esta forma de energia como alternativa, visto poderem fazer híbridos e assim cumprirem as normas exigidas ?
as respostas deixo para os leitores!!!!
palavras chave: ar comprimido, carros a ar comprimido, veículos a ar comprimido, va
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já disse quase tudo, acrescento só que o homem começou a mobilidade autónoma com “ar comprimido“, obtido por evaporação da água, e chamado de vapor, a forma mais simples e económica. depois modificou a forma de obter “ar comprimido”, fazendo a combustão no interior do motor, dando assim origem aos vulgos motores de combustão interna.
estes não são mais do que motores a “ar”, onde o gás final deixa de ser o simples ar não poluente, mas com a vantagem de ter o melhor rendimento que se conseguiu até hoje com motores que fluidos compressíveis.
um rendimento que é muitíssimo maior, do que se obtém quando no escape apenas sai … ar.
ar com características físico-químicas semelhantes ao que o rodeia a si neste momento.
completem e disponham.
cumpts